terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pesquisadora cria material a base de celulose bacteriana para regenerar dentes


Produto tem como base a celulose da bactéria Acetobacter xylinum, um microorganismo encontrado em frutas e legumes em decomposição.

Foto: Sybele Saska/Unesp        Biomaterial para regeneração óssea

A cirurgiã-dentista Sybele Saska, doutoranda do Instituto de Química (IQ), câmpus de Araraquara, criou uma membrana que pode substituir os atuais tratamentos para regenerar pequenos traumas nos dentes. O produto tem como base a celulose da bactéria Acetobacter xylinum, um microorganismo facilmente encontrado em frutas e legumes em decomposição. Testes in vitro e um ensaio-piloto em coelhos demonstraram que o biomaterial recupera tecidos ósseos em um período de 7 a 15 dias, dependendo do tamanho do dano.
O estudo foi orientado pelo químico Reinaldo Marchetto, professor do IQ, e teve co-orientação da físico-química Younès Messaddeq, também do IQ, e da odontologista Ana Maria Minarelli Gaspar, professora da Faculdade de Odontologia, câmpus de Araraquara. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) financiou o projeto, que também teve a cooperação dos pesquisadores Paulo Tambasco de Oliveira e Lucas Novaes Teixeira, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (USP).
O produto foi desenvolvido em cerca de um ano e meio, e sua patente foi depositada em maio, com auxílio do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI) da Fapesp. Testes em ratos estão previstos para o primeiro semestre de 2011. De acordo com os resultados dessa próxima etapa, os pesquisadores acreditam ser possível iniciar os primeiros experimentos em humanos.
Além da celulose bacteriana, a membrana regeneradora para os dentes também é composta de colágeno, hidroxiapatita (um mineral que compõe o esmalte do dente) e peptídeos sintéticos, que são sequências de aminoácidos e se caracterizam por serem estruturas menores do que proteínas. Os peptídeos usados são do tipo OGP (osteogenic growth peptide ou peptídeos de crescimento osteogênico), ou seja, eles são capazes de regular o crescimento do osso e por isso contribuem para sua regeneração.
As bactérias empregadas conseguem sintetizar as fibras de celulose em dimensões nanométricas (formada por milionésimas partes de milímetro). A estrutura nanométrica e os componentes utilizados são os fatores que garantem o desempenho mais ágil na regeneração dos dentes em relação aos tratamentos atuais, segundo explicação da pesquisadora. " Essa inédita combinação traz uma nova perspectiva para o processo de regeneração de tecido ósseo."
Sybele esclarece que apenas defeitos ósseos pequenos podem ser tratados com esse tipo de película, que é posicionada sobre a região traumatizada. Essas lesões podem ser causadas, por exemplo, ao redor de um implantante dentário, em processos de extração de dente ou quando há cistos ósseos. O biomaterial não substitui pinos, placas e parafusos de titânio, usados para consertar fraturas na dentição ou para realizar implantes.
Prêmio Internacional
Por essa pesquisa, a doutoranda ganhou um prêmio na 88ª Sessão Geral da Associação Internacional de Pesquisa Dentária (88th International Association for Dental Research General Session), em julho, em Barcelona, na Espanha. Sob o título New [bacterial cellulose-collagen]-hydroxyapatite nanocomposite with growth factors for bone regeneration, seu trabalho foi considerado o melhor na categoria Materiais Dentários. A distinção é concedida pela empresa alemã Heraeus, que atua na manipulação de metais preciosos, tecnologia, fabricação de instrumentos médicos e dentários e biomateriais. Na ocasião, outros quatro cientistas foram contemplados, oriundos de instituições de Japão, Inglaterra, EUA e Alemanha.
Sybele apresentará sua tese de doutorado em 2011 e já tem planos para o pós-doutorado. Nessa próxima etapa de estudos, a dentista pretende desenvolver, a partir dessa membrana, um modelo tridimensional chamado de scaffolds, termo em inglês ainda sem tradução para essa finalidade. " Com esse novo conceito vamos conseguir criar um biomaterial exatamente no formato desejado e o osso poderá se regenerar com mais precisão dentro desse molde."

Nenhum comentário:

Postar um comentário