Embora o mundo pareça não esperar grande coisa da próxima Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, o país organizador parece insistir em manter o evento em alta na mídia.
Seguindo esta linha, esta semana houve uma teleconferência com André Correa do Lago, negociador-chefe do Ministério das Relações Exteriores para o evento, que esclareceu o foco e os objetivos da Rio+20.
Rio+20 não será “idealista”
Consultado sobre as metas da Rio+20, o diplomata não foi tímido na resposta. “Não é uma conferência idealista, não vamos dizer que estamos salvando o planeta com metas e medidas que sabemos que não serão levadas a sério”, enfatizou.
Segundo Correa do Lago, o objetivo é estabelecer “o mundo que queremos ter em 20 anos, ajustando o que estamos fazendo no presente para alcançá-lo”. No entanto, deixou claro que não se trata apenas de um “exercício intelectual”, mas de atingir metas mais concretas.
Para o negociador, o Brasil avançará se a conferência conseguir gerar um impacto positivo nas discussões sobre sustentabilidade no plano multilateral, e na forma como os países administram e incorporam o desenvolvimento sustentável como paradigma. Também ressaltou que a sociedade deve ter acesso à agenda e aceitá-la como um caminho para um futuro melhor: “se a sociedade civil não concordar, os governos não serão capazes de tomar decisões”, destacou.
Por este motivo, um segmento da conferência, denominado Quatro dias de diálogo sobre o Desenvolvimento Sustentável, ocorrerá antes das reuniões principais, como um fórum aberto.
Países desenvolvidos X em desenvolvimento
Com essas palavras, e repetindo insistentemente que a ideia é discutir um desenvolvimento sustentável que faça sentido nos âmbitos ambiental, econômico e social, Correa do Lago se refere ao fato de os países em desenvolvimento continuarem defendendo o direito ao crescimento, sem imposições dos países desenvolvidos.
“Há uma percepção estranha de que os esforços para a transformação verde da economia têm que acontecer a partir de agora, sobretudo nos países em desenvolvimento”, afirmou. “Os países desenvolvidos precisam pensar no que eles devem fazer, e não nos outros”.
“Se eles criam novos padrões de produção e consumo, à medida que China, Brasil ou Índia começam a construir uma enorme classe média, esta nascerá em um novo marco de produção e consumo sustentáveis. Esta classe média está tentando atingir o mesmo nível de vida da classe média dos países desenvolvidos, portanto, se eles não forem sustentáveis, também não o seremos”.
Novas formas de medir o crescimento
Como participante da conferência, o TreeHugger comentou que os países da América Latina costumam exibir com orgulho os números de crescimento do PIB, baseados em um sistema de produção-consumo que não é sustentável, e perguntou se existe a intenção de discutir as formas de avaliar o sucesso dos países.
“Sim, a ideia de novos indicadores está muito presente na agenda da conferência”, confirmou Correa do Lago. “Evidentemente, alguns países estão preocupados com isso porque acreditam se criarmos novos indicadores, eles podem ser utilizados contra eles. Mas acredito que possamos fazer um bom trabalho nesta área, é uma questão central da conferência”.
Sem dúvida, não é uma questão menor, e o temor de que o PBI seja enfraquecido como indicador é compreensível. Para manter governos estáveis e atrair investimentos, os países costumam exibir números altos de crescimento do PIB, que nem sempre são vantajosos no âmbito ambiental. Um exemplo: o governo argentino anunciou, com muito orgulho, que 2011 marcou um novo recorde de vendas de automóveis no país, de 860 mil unidades, um incremento de 30% em relação a 2010. É uma ótima notícia para o PBI, mas não em um cenário de desenvolvimento sustentável, por razões óbvias.
Chegar a um consenso sobre uma forma diferente de medir o “sucesso” pode ser crucial para modificar as ideias dos governos sobre o que é melhor para seus cidadãos e sobre o que deve ser feito para aumentar a qualidade de vida.
Objetivos semelhantes
Com poucos participantes de alto escalão confirmados até agora, ainda não se sabe qual será o impacto real da Rio+20.
Para Correa do Lago, embora os objetivos da conferência sejam similares aos da primeira edição (1992) e da segunda (2002), o mundo mudou significativamente. “As questões ambientais se tornaram centrais, e a mudança climática por si só já transformou a percepção de como o mundo deve funcionar. Queremos que o desenvolvimento sustentável esteja ligado não só ao meio ambiente, mas também à economia e à sociedade, para realmente conseguirmos realizar o que queríamos fazer na Rio-92”.
Fonte:Treehugger Brasil,por Paula Alvarado
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