sexta-feira, 27 de abril de 2012

Rumo à industrialização com energias limpas

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No Quênia, 60% do consumo de energia procede de hidrelétricas, mas é irregular. Foto: Isaiah Esipisu/IPS

Nairóbi, Quênia, 27/4/2012 – Com o anúncio do novo projeto de desenvolvimento de energia geotérmica, o Quênia caminha para ser o centro nevrálgico da África oriental. O governo queniano lançou este mês o Projeto de Desenvolvimento Geotérmico de Menengai, a primeira iniciativa de sua nova Campanha de Desenvolvimento Geotérmico, criada para acelerar o avanço desta fonte de energia.
Seu diretor-executivo, Silas Simiyu, informou que poderão ser gerados 400 megawatts até 2016, quando terminar a primeira etapa do projeto, que fornecerão energia elétrica a 500 mil moradias e farão funcionar 300 mil pequenos comércios. A usina “localizada 180 quilômetros a noroeste de Nairóbi poderá produzir 1.600 MW de eletricidade ao fim da terceira fase, em 2030”, afirmou Simiyu.
Segundo Nashon Adero, analista econômico e político do Instituto de Pesquisa de Políticas Públicas e Análises do Quênia, a primeira etapa do projeto terá um impacto significativo para o país, que objetiva a industrialização. “Atualmente, o Quênia consome 1.600 MW”, declarou Adero. “O aumento de 400 MW representa, portanto, aumento de 25%. O país se tornará um gigante econômico na região graças a outros projetos ambiciosos em matéria de energia verde, como a iniciativa eólica do Lago Turkana, que vai gerar outros 300 MW”, ressaltou. As obras no Lago Turkana começarão em junho e no final deixarão pronta a maior fazenda eólica da África subsaariana.
O Quênia costuma ser visto como o centro financeiro, de comunicações e transporte da África oriental e central. Seu produto interno bruto aumentou de 4% para 5% nos últimos dez anos. “O PIB do Quênia é o maior da região graças ao seu forte setor agrícola, especialmente na produção de chá e café, e na floricultura”, disse Ezekiel Esipisu, diretor de operações para África oriental e Oriente Médio da Habitat para a Humanidade. “Isso somado aos investimentos na bolsa de valores em Nairóbi e na indústria fabril levou o país a se converter em uma das principais economias da África”, acrescentou.
Esipisu disse à IPS que os investimentos no setor energético vão impulsionar ainda mais o desenvolvimento econômico. “Os vizinhos do Quênia têm problemas energéticos. O mapa do caminho deste país para melhorar a produção elétrica promoverá o desenvolvimento. O veremos aproximar-se da industrialização, se tornará um verdadeiro gigante econômico na região”, destacou.
Cerca de 60% da eletricidade procede de centrais hidrelétricas. Mas o fornecimento é instável, pois o Quênia sofre secas permanentes e chuvas irregulares. Além disso, os cortes de energia são obstáculos para o crescimento. Em julho e agosto de 2011, as autoridades foram obrigadas a racionar a energia por causa do baixo nível de água na represa maior. Então eram gerados 1.200 MW, mas a demanda aumenta 8% ao ano, segundo o Ministério de Energia.
Os cortes de eletricidade em 2011 custaram ao país US$ 96 milhões, embora na pior época de racionamento, entre 1999 e 2001, tenha perdido 4% do PIB, cerca de US$ 400 milhões. “A geração de energia hidrelétrica só depende das condições climáticas”, explicou John Omenge, chefe de geólogos do Ministério de Energia. “Quando há seca, a água baixa e se reduz a geração de eletricidade. A energia geotérmica é, portanto, a solução. É um dos métodos mais confiáveis para produzir energia elétrica porque não se altera por causa de calamidades ambientais como as secas”, acrescentou.
Em lugares com atividade tectônica, como a região do Vale do Rift, se injeta água em um poço, que vaza nas rachaduras de rochas vulcânicas ardentes. O vapor pressurizado resultante faz funcionar as turbinas que geram eletricidade. O Quênia é o primeiro país africano a adotar a energia geotérmica e já está gerando 209 MW com o Projeto Geotérmico de Olkaria, um complexo vulcânico localizado na província do Vale do Rift, operado pela Companhia de Geração Elétrica do Quênia.
O Projeto de Menengai é só uma pequena parte da Visão 2030, uma iniciativa de desenvolvimento que tem o objetivo de transformar o Quênia em um país industrializado de renda média até esse ano, graças à geração de cinco mil MW de eletricidade a partir dos recursos geotérmicos disponíveis em vários pontos do país.
“O fornecimento elétrico é fundamental para qualquer tipo de desenvolvimento”, destacou Gabriel Negatu, diretor do Centro de Recursos da África Oriental, do Banco Africano de Desenvolvimento. Esta instituição forneceu os fundos para a primeira etapa das operações em Menengai. “Este projeto é crucial para o país, pois o Quênia se transforma no motor do continente. As perspectivas neste sentido são tão grandes que o escritório regional do Banco Africano de Desenvolvimento fica em Nairóbi. Outras organizações seguem seus passos, transformando esta cidade em um centro econômico regional”, enfatizou Negatu. 
fonte: Envolverde/IPS

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