quinta-feira, 14 de junho de 2012

O que esperar da Rio+20


Há um misto de empolgação e ausência de expectativas em torno da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (http://www.uncsd2012.org/), Rio+20, que ocorre oficialmente entre os dias 20 e 22 de junho, mas cujos eventos paralelos começaram no ínicio do mês, com as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Estes eventos e a participação ativa da sociedade civil correspondem à empolgação: diferentemente da Cúpula da Terra de 1992, a Rio+20 fomentou ativamente a participação de governos municipais, organizações não-governamentais, o setor privado e todos os que quisessem participar da discussão - o que fez com a multidão que invadiu o Rio esta semana discuta o evento, sem se importar tanto com os resultados.
O que nos leva à parte da ausência de expectativas: os organizadores da conferência não hesitaram em afirmar que não estão em busca de um tom "idealista". Há razões para se concordar com esta postura e para combatê-la. Pessoalmente, tenho pouca fé no processo global e mais esperança na ação das cidades e dos governos na esfera individual. Por isso, acredito que o evento se concentrará mais em conectar e amplificar os esforços individuais que estão em andamento no mundo que em coordenar os globais. Surge daí a pergunta: como poderíamos medir os esforços individuais para compreender os avanços coletivos.
Viajarei ao Rio de Janeiro para cobrir o evento para o TreeHugger, e apresento aqui algumas ideias sobre as expectativas em torno da Rio+20:
1. Negociações sem resultados revolucionários
O chefe da Divisão de Política Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores e negociador-chefe do Brasil para assuntos climáticos, André Correa do Lago, foi objetivo durante uma coletiva de imprensa em fevereiro do ano passado: “Não é uma conferência idealista, não vamos dizer que estamos salvando o planeta com metas e medidas que sabemos que não serão levadas a sério”, enfatizou.
A discussão se concentrará na definição do que é o desenvolvimento sustentável, ponto de partida para o desenvolvimento de políticas a longo prazo. Embora isso seja fácil de entender em termos gerais, os negociadores estão analisando cada palavra: pobreza “extrema” não é o mesmo que pobreza; água “limpa e segura” não é o mesmo que água segura. Desta forma, é provável que não sejam anunciadas disposições imediatas, mas uma visão comum e um compromisso sobre o caminho a seguir.
2. Ação fora dos gabinetes
Esta conduta está alinhada com observações anteriores e foi sugerida por Rodrigo Rosa, coordenador-executivo da Rio+20, em uma entrevista ao TreeHugger: “A força da Rio+20 não estará dentro dos gabinetes, mas no movimento fora deles. Este ano, haverá uma grande quantidade de eventos paralelos, o que não aconteceu em 1992. Os políticos são conservadores, tomam decisões depois que a sociedade civil demonstra sua vontade. Creio que a Rio+20 contribuirá com isso”.
Os ambientalistas mais irredutíveis talvez digam que a sociedade já declarou sua vontade. No entanto, o evento deve gerar mais discussões sobre o meio ambiente na América do Sul do que as negociações globais sobre o clima (COPs).
3. As cidades como protagonistas
Não é novidade que certos prefeitos já mostraram estar um passo à frente dos governos nacionais em termos de ação ambiental, o que é bastante promissor. Politicamente, é mais fácil implementar novas ideias nas cidades que realizar uma mudança nacional. Se considerarmos que mais da metade da população mundial vive nas cidades, o impacto dessas ações está longe de ser insignificante.
Na Rio+20, esta corrente estará presente: em um evento paralelo, o Grupo de Grandes Cidades com Liderança Climática (C40) reunirá prefeitos e funcionários públicos de 26 centros urbanos, tendo o presidente do grupo e prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, como anfitriões.
“A discussão sobre a sustentabilidade é necessariamente uma discussão sobre a sustentabilidade nas cidades”, destacou Rosa. “O prefeito de Londres disse: 'Não existe direitos autorais sobre as políticas públicas'. Se começarmos a copiar o que outras cidades estão fazendo de melhor, a mudança será muito mais rápida”.
4. Discussão sobre formas alternativas de medir o crescimento
Criar indicadores alternativos de medir a saúde da economia, além da fórmula do Produto Bruto Interno, é essencial para garantir um futuro sustentável, que explore a natureza com responsabilidade.
Na entrevista mencionada anteriormente, Correa do Lago afirmou que a questão será crucial durante a Rio+20: “A ideia de novos indicadores está muito presente na agenda da conferência”, declarou. “Evidentemente, alguns países estão preocupados com isso porque acreditam que se criarmos novos indicadores, eles podem ser utilizados contra eles. Mas acredito que possamos fazer um bom trabalho nesta área, é uma questão central da conferência”.
5. Oradores de alto nível, muitas ideias
A diversidade e qualidade dos eventos paralelos da Rio+20 inundará a cidade de ideias e cases de sucesso interessantes. O evento Rio Plus Social, por exemplo, terá entre seus oradores o magnata da mídia Ted Turner; os ex-presidentes do Brasil e do Chile, Fernando Henrique Cardoso e Michelle Bachelet; o fundador da Virgin Richard Branson, e o jovem diretor do blog de notícias Mashable, Pete Cashmore, entre outros. A Cúpula dos Povos possui um programa tão extenso que parece ter mais eventos do que palestrantes.
6. Participação ativa da sociedade civil
Durante muito tempo, as negociações ambientais foram reduto de diplomatas e alguns correspondentes especializados, mas a mudança iniciada na COP15 em Copenhague se aprofundará na Rio+20.
O objetivo principal de campanhas como a Rio Plus Social e Rio Mais Você é conscientizar as pessoas sobre a importância das questões discutidas no evento.

Fonte:TreeHugger Brasil

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