segunda-feira, 2 de julho de 2012

A fase “vejam o lado bom” da Rio+20 não esconde a necessidade de repensarmos o processo



Depois de cada conferência malograda nas Nações Unidas, vêm os cinco estágios típicos do luto: negação, raiva, barganha, depressão, e finalmente, aceitação. Esta última vem acompanhada pela esperança no próximo evento, esperança descrita por George Monbiot como “a corda na qual todos estamos pendurados”. Assim, ONGs, mídia e governos tentam identificar os progressos (caso existam) e estabelecer a crença geral de que qualquer progresso é melhor do que nenhum. Dois pontos que se destacam como resultados positivos da Rio+20: os compromissos individuais assumidos pelos países e o desejo de formar um grupo de Metas para o Desenvolvimento Sustentável.
Até isso gerou um certo fastio, quando seis representantes de ONGs e um da comunidade corporativa realizaram uma coletiva de imprensa com as críticas de sempre, comentários positivos e as menções obrigatórias ao “caminho que ainda temos que percorrer” e aos “próximos passos”.
Gostei particularmente do comentário do diretor do Greenpeace, Kimu Naidoo: “Não precisamos de uma grande conferência global da ONU para anunciar projetos”. De fato, no começo achei que os compromissos individuais assumidos pelos governos eram positivos, e ainda acho, mas realizar um evento tão grandioso para anunciar ações internas que parecem ter sido planejadas bem antes de colocarmos os pés no Rio – e que poderiam ter sido divulgadas nacionalmente – não faz sentido.
Stephen Hale, da Oxfam, classificou a falta de ação como “renúncia à responsabilidade” e classificou a conferência como um “fracasso”, mas destacou “três raios de esperança”. Um deles são os passos iniciais para a determinação das Metas para o Desenvolvimento Sustentável, que devem substituir as Metas de Desenvolvimento para o Milênio a partir de 2015. “Foi um parto doloroso, mas nos deu a possibilidade de criar um conjunto ambicioso de metas que unificam o programa ambiental e social”, declarou.
Em teoria, parece bom, mas leiam o parágrafo 46 do documento O Futuro Que Queremos: “Também reconhecemos a importância e a utilidade de um conjunto de metas para o desenvolvimento sustentável”. É a intenção de ter uma intenção no futuro, e o que se segue são linhas e mais linhas de condições.
Um jornalista fez um comentário que devia passar pela cabeça de todos: “Não há nenhum indício de que chegaremos a qualquer tipo de acordo com esse processo. Então por que continuamos voltando?”. Seguiu-se um longo discurso sobre a importância da participação da sociedade civil e um comentário hesitante de Hale: “Não há nenhuma evidência de que o oposto seja verdadeiro”. Acho que uma das evidências em contrário seja o fato de que, 20 anos depois de adotar um documento, tenhamos discutido e adotado outro documento, que todos consideram um retrocesso em relação ao primeiro.
Do lado de fora, o ativista David Suzuki, acompanhado de sua filha Severn e de um membro de uma tribo amazônica, era mais contundente: “Inventamos coisas como o capitalismo, a economia, o mercado, e nos demos mal. Mas fomos nós os inventamos, não são uma força da natureza. E se não estão funcionando, podemos mudá-las”. Minutos depois, quando lhe perguntaram sobre o processo, Suzuki arrematou: “Não vejo nada de bom saindo daqui”. 
Severn-david-suzuki
Os compromissos nacionais e a promessa de um novo conjunto de metas são bons resultados, mas não justificam todo esse alvoroço. Vi pilhas de papéis sobre mesas, cerca de cem “delegados” fazendo fila para pegar uma sacola com brindes, e muita gente desocupada perambulando com o olhar perdido. Falamos de eficiência energética o tempo todo, mas e quanto à eficiência polícia e diplomática?
Algo que esteve ausente nessa conferência foi o design. Não o design de um conjunto de belas cadeiras, mas o chamado design thinking. Sempre falamos sobre a necessidade de redesenhar produtos que se tornaram obsoletos, mas não questionamos se é mesmo uma boa hora para suspender ou esquecer esses processos, em vez de repensá-los para que funcionem. Até lá, andaremos continuamente dentro do mesmo círculo.
Fonte:TreeHugger Brasil
Texto de Paula Alvarado

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