segunda-feira, 20 de maio de 2013

Óleo de cozinha vai mover a Copa do Mundo

Os ônibus das 32 seleções que disputarão a Copa do Mundo de 2014 no Brasil vão usar combustível de óleo reciclado.


       O combustível B20 será usado nos ônibus das seleções na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Ele tem em sua composição 20% de um biodiesel produzido a partir de óleo de cozinha reciclado. (Cortesia da Biotechnos)
O combustível B20 será usado nos ônibus das seleções na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Ele tem em sua composição 20% de um biodiesel produzido a partir de óleo de cozinha reciclado. (Cortesia da Biotechnos)


SÃO PAULO, Brasil – A Copa do Mundo de 2014 vai ser movida a óleo de cozinha.
O transporte das 32 seleções será feito por ônibus movidos a B20, um combustível que é uma mistura de biodiesel produzido a partir de óleo de cozinha reciclado (20%) com óleo diesel derivado do petróleo (80%).
O projeto do combustível, chamado de Bioplanet, faz parte de uma lista de 96 iniciativas escolhidas pelo governo federal para promover a imagem do Brasil, tendo a Copa do Mundo como pano de fundo. A chancela é o apoio institucional do governo, sem destinação de recursos.
Além dos ônibus das delegações, o B20 vai abastecer caminhões de cooperativas de reciclagem em várias regiões do país.
“O B20 pode substituir o óleo diesel mineral em todos os veículos de transporte de passageiros e cargas, motores estacionários [máquinas e equipamentos] e geradores de energia do país”, diz Vinicus Puhl, coordenador do projeto.
Criado pela empresa Biotechnos, de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, o projeto Bioplanet prevê a instalação de centros de reciclagem de óleo de cozinha em cerca de 40 cidades brasileiras que participam direta ou indiretamente da Copa das Confederações, em junho, e da Copa do Mundo de 2014. A lista inclui as cidades-sedes e aquelasonde os times vão treinar ou se hospedar antes e durante as competições.
“A ideia do projeto é demonstrar o potencial criativo e inovador do Brasil e promover essa tecnologia genuinamente brasileira”, diz Puhl. “O Brasil é líder nessa área de energias renováveis e pode servir de exemplo para outros países.”
Segundo ele, a meta é coletar 25 milhões de litros de óleos residuais até julho de 2014. Como a proporção é 1 litro de biodiesel para cada litro de óleo, o projeto renderá 125 milhões de litros de biodiesel até a Copa.
Cerca de 3 milhões de estudantes e 10.000 catadores de materiais recicláveis vão participar da coleta de óleo de cozinha.
“Criamos uma estação de coleta na escola”, diz Sirlene Leal, diretora do Educandário Nilton Monteiro, do bairro Ricardo Albuquerque, no Rio de Janeiro. “Esta é uma forma de incentivar os alunos a buscarem novos caminhos para o futuro ambiental do planeta.”
O primeiro centro de reciclagem, ou “usina Bioplanet”, começou a funcionar em fevereiro no Polo Industrial de Sustentabilidade do Rio de Janeiro, em Honório Gurgel, na Zona Norte do Rio.
Outras cinco já foram implementadas pelo Brasil e mais quatro estarão em funcionamento a partir de 15 de junho, de acordo com Puhl. Até junho de 2014, todas as 12 cidades-sedes terão suas usinas de produção do B20 em funcionamento.
“Ao usar o novo combustível, deixamos de poluir o solo e a água. O mundo todo pode se beneficiar com isso”, diz Edson Freitas, diretor da ONG Eccovida, parceira da Biotechnos na usina carioca.
A expectativa da Eccovida é que a usina do Rio gere 50.000 litros de biodiesel por mês.
A maior rede de cooperativas de catadores do Rio de Janeiro, a Recicla Rio, recolhe mensalmente 15 t de óleo de cozinha em quatro comunidades (Complexo da MaréComplexo do Alemão, Complexo da Penha, Complexo do Engenho da Rainha), além de bares e restaurantes da cidade.
Antes, o óleo coletado pela Recicla Rio era vendido para terceiros e revendido para empresas de sabão, entre outras. Agora é vendido exclusivamente para a usina Bioplanet.
“Queremos colocar o biodiesel para abastecer os cinco caminhões de coleta da Recicla Rio, o que vai gerar uma economia de 30% com combustível”, afirma o diretor da Recicla Rio, Luiz Carlos Santiago.
No Complexo do Alemão, onde moram cerca de 70.000 pessoas, a catadora Zilda Barreto da Silva, 57, diz que o projeto trará benefícios econômicos para os catadores.
“Recolhemos 2.000 litros de óleo de cozinha por mês. Antes, este óleo era vendido para atravessadores e nem sabíamos o destino. Agora ele vai para a usina e volta em forma de combustível para nossos veículos”, diz Zilda, que é presidente da Cooperativa dos Catadores do Complexo do Alemão.
A reciclagem do óleo de cozinha é fundamental para a preservação dos rios brasileiros. O país tem a maior reserva doce do planeta – 12% do total mundial. E cada litro de óleo despejado na rede de esgoto local polui 25.000 litros de água, segundo a Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo.
“Infelizmente, as sobras do óleo de cozinha no Brasil costumam ir pelo ralo da pia”, diz Puhl. “Espero que o novo combustível seja o início de uma mudança cultural no país.”

Por Beth Matias para Infosurhoy.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário