Turistas ameaçam ambiente frágil
Os Himalaias correm o risco de se tornarem um gigantesco depósito de lixo. O Nepal quer sair da pobreza expandindo sua indústria de turismo, mas sem estrutura para lidar com os resíduos deixados por ela.
Não há nada como acordar e enxergar num dia de céu claro as vistas espetaculares das cadeias de montanhas Lhotse Amu Dablam e um montão de lixo, relata o correspondente do
. A pilha de garrafas de cerveja, de água mineral e outros materiais fica a apenas alguns minutos de caminhada do vilarejo de Tengboche. Representa o lixo acumulado durante uma estação. Ele não se encontra nas trilhas regulares de trekking que, fora uma ou outra garrafa ou embalagens plásticas de macarrão instantâneo, são admiravelmente limpas.A maioria dos turistas não têm idéia de seu impacto na remota paisagem do Everest, diz Alton Byers, que lidera uma expedição como diretor do Mountain Institute. Mas o lixo expõe os riscos da estratégia do governo do Nepal. “Nesta altitude, e com este ambiente, este lixo vai ficar aí por mil anos”, afirma ele.
O governo declarou 2011 como o ano nepalês do turismo, e busca dobrar o número de visitantes, para que ele chegue a um milhão. Mas comunidades remotas conseguem lidar com isso? Apenas uma fração dos turistas no Nepal chegam à região do Everest – cerca de 31 mil por ano -, mas eles já estão pesando para vilarejos locais. Na alta estação, que vai de meados de setembro a dezembro, pode ser difícil encontrar um quarto em algumas das rotas de trekking. E mais difícil ainda limpar a sujeira deixada por eles, depois que se vão. “Trinta anos atrás, não havia lixo, não existia plástico”, disse Byers. “Agora encontramos estas coisas até o acampamento de base do Everest.”
Mesmo a cidade de Namche Bazaar, a maior da região, não tem um sistema de tratamento de esgoto. O esgoto de 45 pousadas é despejado direto em um canal, que por sua vez vai dar no rio Khosi, de acordo com Orenlla Puschiasis, uma pesquisadora de Universidade de Paris-Nanterre, que está estudando a qualidade da água na região. “Não há nada sustentável aqui. Para serem sustentáveis, eles têm de pensar no futuro e administrar o lixo e o esgoto”, afirma ela.
As empresas que promovem o Trekking deveriam supostamente levar seu lixo embora, mas a maioria delas não o faça. E os operadores de pousadas não aceitam bem a idéia de pagarem carroças de yaks para retirar a sujeira. Ainda que elas levassem o lixo para Kathmandu, o que aconteceria? Não há uma indústria de reciclagem no Nepal, nem lá.
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