sábado, 17 de setembro de 2011

Os Himalaias, virando um monte de lixo


Turistas ameaçam ambiente frágil
Os Himalaias correm o risco de se tornarem um gigantesco depósito de lixo. O Nepal quer sair da pobreza expandindo sua indústria de turismo, mas sem estrutura para lidar com os resíduos deixados por ela.
Não há nada como acordar e enxergar num dia de céu claro as vistas espetaculares das cadeias de montanhas Lhotse Amu Dablam – e um montão de lixo, relata o correspondente do Guardian. A pilha de garrafas de cerveja, de água mineral e outros materiais fica a apenas alguns minutos de caminhada do vilarejo de Tengboche. Representa o lixo acumulado durante uma estação. Ele não se encontra nas trilhas regulares de trekking que, fora uma ou outra garrafa ou embalagens plásticas de macarrão instantâneo, são admiravelmente limpas.
A maioria dos turistas não têm idéia de seu impacto na remota paisagem do Everest, diz Alton Byers, que lidera uma expedição como diretor do Mountain Institute. Mas o lixo expõe os riscos da estratégia do governo do Nepal. “Nesta altitude, e com este ambiente, este lixo vai ficar aí por mil anos”, afirma ele.
O governo declarou 2011 como o ano nepalês do turismo, e busca dobrar o número de visitantes, para que ele chegue a um milhão. Mas comunidades remotas conseguem lidar com isso? Apenas uma fração dos turistas no Nepal chegam à região do Everest – cerca de 31 mil por ano -, mas eles já estão pesando para vilarejos locais. Na alta estação, que vai de meados de setembro a dezembro, pode ser difícil encontrar um quarto em algumas das rotas de trekking. E mais difícil ainda limpar a sujeira deixada por eles, depois que se vão. “Trinta anos atrás, não havia lixo, não existia plástico”, disse Byers. “Agora encontramos estas coisas até o acampamento de base do Everest.”
Mesmo a cidade de Namche Bazaar, a maior da região, não tem um sistema de tratamento de esgoto. O esgoto de 45 pousadas é despejado direto em um canal, que por  sua vez vai dar  no rio Khosi, de acordo com Orenlla Puschiasis, uma pesquisadora de Universidade de Paris-Nanterre, que está estudando a qualidade da água na região. “Não há nada sustentável aqui. Para serem sustentáveis, eles têm de pensar no futuro e administrar o lixo e o esgoto”, afirma ela.
As empresas que promovem o Trekking deveriam supostamente levar seu lixo embora, mas a maioria delas não o faça. E os operadores de pousadas não aceitam bem a idéia de pagarem carroças de yaks para retirar a sujeira. Ainda que elas levassem o lixo para Kathmandu, o que aconteceria? Não há uma indústria de reciclagem no Nepal, nem lá.

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