“O Brasil tem uma visão errada de que a Amazônia é mais importante que a Antártida. Não estamos isolados do resto do mundo e precisamos ter clareza de que todas as mudanças que ocorrem no continente antártico afetam diretamente o cotidiano dos brasileiros, o nosso clima é reflexo dessas transformações”, afirma. Simões cita como exemplo dessa influência, as frentes frias formadas na região que avançam sobre o Brasil durante o inverno e trazem impactos para a agricultura. “E não são somente as regiões mais próximas da Antártida que são atingidas. As friagens, por exemplo, afetam até a Amazônia”.
De acordo com o pesquisador, a instalação de um módulo no interior do continente gelado vai viabilizar estudos mais aprofundados sobre a geologia, glaceologia, astronomia e química, além de permitir o monitoramento das condições climáticas e do impacto gerado pela poluição. “Isso marca uma nova fase do programa antártico brasileiro, que antes concentrava sua atuação apenas em análises feitas a partir da costa e do oceano”.
Os investimentos do governo brasileiro nas pesquisas chegam a R$ 6 milhões por ano. Somado aos custos de logística – como equipes da Marinha e aviões da Força Aérea para o transporte de equipamentos – os recursos ultrapassam a marca de R$ 20 milhões. “Isso ainda é muito pouco se comparamos com outros projetos. Temos de levar em conta que, além do progresso científico que o Brasil pode conquistar a partir desses estudos, também existe uma questão política, já que o nosso País pode se posicionar à frente no debate global sobre o futuro do continente antártico”, afirma.
Sobre o Criosfera I – A estrutura de um módulo instalado no interior da Antártida é mais compacta que a de uma estação, que costuma ser habitada durante quase todo o ano. Com 2,5 m de largura, 6 m de comprimento e 2,8 m de altura, ele tem a função de abrigar os equipamentos, embora comporte também quatro pesquisadores.
O custo da estrutura, que foi fabricada na Suécia, ficou em torno de R$ 185 mil. Com os gastos em equipamentos e operação de transporte, a implantação do módulo brasileiro chega a R$ 930 mil, o que não é considerado um orçamento alto para os padrões de pesquisa no local. Caso não haja imprevistos, a instalação deverá funcionar por 15 anos.
O módulo ficará monitorando aerossóis, íons marinhos, diversos compostos orgânicos voláteis, gás carbônico, além das condições meteorológicas do local. Os dados serão transmitidos via satélite para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O único temor do pesquisador é que o frio extremo possa afetar a estrutura. “Tomamos todas as precauções para que não ocorram problemas, mas a temperatura onde o módulo foi instalado pode ultrapassar 60ºC negativos, o que pode comprometer os equipamentos”, afirma o pesquisador. Mas tudo ocorrer como programado, em dezembro o Brasil mandará uma nova equipe para a Antártida para monitorar o estudo. “O nosso plano é ter mais um módulo lá em pouco tempo, mas isso ainda depende dos investimentos”, completou.
Fonte: Portal Terra
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