A chaminé, marcada pela fuligem que expeliu durante anos, sobreviveu. Era a ponta de uma enorme estrutura que um dia produziu água quente - coisa simples, mas em alguns lugares, um "calorzinho" assim não é só conforto: é essencial.
O hospital Erasto Gaertner é referência no tratamento e na pesquisa de câncer no estado do Paraná. Durante muito tempo, a velha caldeira, movida a óleo de xisto, esquentou a água e os ânimos de quem mora ao redor. Culpa da poluição.
"Em 1996 houve, por causa das caldeiras, uma denúncia dos nosso vizinhos naquela época por causa da fuligem que a gente colocava no meio ambiente e o Ministério Público do Meio Ambiente nos autuou”, conta o superintendente hospital Flávio Tomasich.
Ele contou que existia, por isso, o risco de hospital ser fechado. Começava então a busca para encontrar uma alternativa menos poluidora à caldeira de xisto.
A partir da ação do Ministério Público, o hospital se viu na necessidade de ser ambientalmente correto. Além disso, qualquer economia na manutenção de uma estrutura desse tamanho – 1,5 mil pacientes por dia - significa um melhor atendimento. A solução para esses dois desafios estava dentro do próprio hospital.
Parece um grande gerador de energia. Mas pelo nome, vê-se que há diferença: É uma célula a combustível. Uma tecnologia que existe há algum tempo, foi ao espaço com os astronautas e começa a se tornar mais comum no nosso dia a dia.
Move carros, ônibus. Chama atenção o que não se tem: barulho. Abrimos a máquina, vimos em funcionamento, gerando energia, e o nível de ruído é baixíssimo.
“O processo de conversão dela é silencioso entra gás, sai eletricidade”, explica o pesquisador Maurício Cantão.
O gás a que o pesquisador se refere chega por um pequeno tubo. É gás natural. Mas o que interessa, é um dos seus componentes, o verdadeiro combustível da célula: o hidrogênio.
“Hidrogênio não é um combustível que a gente tem na natureza, mas ele está presente em várias fontes. Algumas são fósseis, gás natural, gasolina, carvão e, outras são renováveis álcool, biomassa, biogás. Uma célula-combustível pode levar qualquer fonte de hidrogênio”, enumera Cantão.
A primeira etapa é converter gás natural em hidrogênio. O hidrogênio entra por um lado na célula-combustível e o oxigênio pelo outro. Ocorre, então, uma reação química. O hidrogênio se divide em prótons e elétrons. Enquanto os elétrons geram energia, os prótons produzem água quando se encontram com o elétron e o oxigênio.
A célula de energia produz 15 mil litros de água por mês, de forma mais eficiente, sem poluição e a um custo menor. Uma economia de R$ 80 mil por ano na conta de energia do hospital. O problema é o preço da célula: O equipamento fabricado nos Estados Unidos saiu por quase R$ 2 milhões, bancados por um instituto que estuda a tecnologia para que a célula possa ser fabricada aqui um dia.
“É preciso reduzir um pouco o custo, porque assim mais hospitais, mais hotéis, mais condomínios vão querer comprar essa planta pelo benefício ambiental, entre outros benefícios. E, ao aumentar a produção, o custo cai bastante”, destaca o pesquisador.
E pode cair mais, se o combustível da célula vier de lugares como uma estação de tratamento de esgoto, onde o gás produzido naturalmente também é rico em hidrogênio e já é, em parte, aproveitado por aqui. Mais um sinal de que a velha chaminé não deve voltar mesmo a ser usada.
Essa tecnologia pode gerar energia para alimentar cerca de 200 casas pequenas. Mas são ainda poucos os exemplos de células a combustível funcionando no Brasil e quase todas em regime experimental.
Fonte:g1.com.br
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