O dióxido de carbono (CO2) é considerado um dos maiores vilões do aquecimento global. O aumento da emissão deste gás, especialmente pela ação do homem, vem intensificando o efeito estufa – processo que retém parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre, fazendo com que o calor fique preso na atmosfera. Para ajudar a minimizar a emissão de CO2, uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) propõe uma alternativa inusitada, a partir da construção civil: a fabricação de um cimento ecológico capaz de "sequestrar" do ar as moléculas de dióxido de carbono.
Para encontrar a melhor rota de aplicação da tecnologia de "sequestro" de CO2 pelo cimento ecológico, Toledo está investigando as condições físico-químicas do material cimentício durante o processo de fabricação, em testes que estão em curso no Laboratório de Estruturas e Materiais (Labest/Coppe/UFRJ). Em vez do tradicional processo de "cura" utilizado pelos fabricantes de cimento, em que o concreto, inicialmente pastoso, endurece a partir de reações químicas com a água, o professor vem aproveitando o dióxido de carbono presente no ar para promover o endurecimento controlado do material, em uma reação química de carbonatação. "Fazemos a 'cura' do cimento em uma câmara com CO2, para que o gás se combine com o hidróxido de cálcio do material cimentício, 'seqüestre' o CO2 e forme carbonato de cálcio", detalha.
Ao lado dos benefícios para o meio ambiente, o uso de fibras naturais no cimento teria impactos sociais positivos para o estado do Rio de Janeiro. O uso de fibras de coco na indústria de cimento, por exemplo, poderia movimentar a economia da região de Quissamã, no norte fluminense, reconhecida como a maior produtora de coco do estado. "O uso racional da fibra de coco como reforço ao cimento pode gerar renda e também contribuir para minimizar o problema ambiental da deposição de casca do fruto em aterros sanitários, que gera metano, outro gás responsável pelo aquecimento global", destaca.
Segundo o professor, o concreto é, de longe, o material de construção mais utilizado no planeta. O desafio é agregar valor ao produto, criando concretos para o desenvolvimento sustentável. "Em países emergentes, como o Brasil, Rússia, China e Índia, com forte crescimento econômico, a demanda pelo uso de concreto é grande. Nenhum outro material poderá, tão cedo, substituí-lo. Daí a necessidade de criar alternativas sustentáveis para o produto", conclui. O estudo rendeu a publicação de artigos em revistas científicas internacionais, como a Cement and Concrete Composites, Cement and Concret Research, Materials and Structures, Construction and Building Materials e Journal of Environmental Management.
Sobre o cimento
Uma das mais antigas evidências de uso do cimento está nas pirâmides do Egito. Para erguer as suntuosas pirâmides, os egípcios desenvolveram um tipo de cimento fabricado através de uma mistura de gesso calcinado. Já na Roma Antiga, há cerca de dois mil anos, surgiu o termo latino caementu, palavra que deu origem ao termo "cimento" utilizado hoje. O químico e pedreiro britânico Joseph Aspdin foi o primeiro a fabricar o cimento artificial, produzido com metodologia científica. Ele o batizou como "cimento Portland", em referência à Portlandstone, pedra arenosa usada em construções na região de Portland, na Inglaterra. Em geral, a fabricação do produto leva em conta quatro matérias-primas: argila, calcário (tipo de rocha sedimentar encontrada abundantemente na crosta terrestre), minério de ferro e gesso.
Fonte: Débora Motta/Faperj
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