sexta-feira, 27 de julho de 2012

Por que as mensagens verdes não geram ação? A resposta está no nosso cérebro

Simran-sethi-tedxcibeles

Há uma dolorosa realidade no mundo ambiental: os seres humanos não estão fazendo o bastante para evitar que a temperatura do planeta suba dois graus e desencadeie mudanças climáticas perigosas. De fato, nos últimos dois anos, seus possíveis efeitos deixaram de ser uma ameaça para se tornar realidade: sofremos omaior número de desastres naturais da história recente e registramos as temperaturas mais altas até o momento.
No entanto, nunca tivemos tantos dados, tantas imagens, tantas horas de televisão, minutos de rádio e palavras escritas sobre a crise ambiental. Se não é informação, o que está faltando para colocarmos a mão na consciência?
Simran Sethi, jornalista indiana radicada nos Estados Unidos, fez esta pergunta e a busca por uma resposta a levou a analisar o está faltando na divulgação dos problemas ambientais. Em uma palestra do TEDxPlazaCibeles, Sethi explica que não evoluímos o suficiente como espécie para entender os problemas que enfrentamos hoje: temos o mesmo cérebro que tínhamos há 200 mil anos, e ele processa informações de diferentes maneiras.
“O que vemos e o que experimentamos de forma direta é só o que importa. É por isso que meu colega Doug não tem certeza de que o ser humano esteja causando a mudança climática, mas tem certeza de que as partículas de poluição de nossa ‘fábrica de carbono’ estão piorando a asma de sua filha”, explica.
Os seres humanos respondem a quatro tipos de ameaças: instantâneas, iminentes, personalizadas e repulsivas. Segundo Sethi, elas “acendem” o cérebro inteiro e colocam a pessoa em estado de alerta, enquanto a ideia de um aquecimento global de dois graus “acende” apenas uma pequena parte do cérebro, denominada córtex pré-frontal, a parte do cérebro que se conecta com o futuro. “Se eu nos bombardeasse com imagens de crianças famintas ou de albatrozes das Ilhas Midway com estômagos cheios de plástico, ficaríamos tristes e condoídos, mas depois voltaríamos a nos preocupar com a vida cotidiana”, explica.
“O que vemos e o que experimentamos de forma direta é só o que importa. É por isso que meu colega Doug não tem certeza de que o ser humano esteja causando a mudança climática, mas tem certeza de que as partículas de poluição de nossa ‘fábrica de carbono’ estão piorando a asma de sua filha”.
Outro problema do nosso cérebro chama-se viés de confirmação: costumamos acreditar nas informações que confirmam a visão de mundo que já temos. É por isso que não conseguimos convencer um cético do clima apenas com dados.
Para formar vínculos com pessoas que não pensam como nós, é importante encontrar áreas de comunhão. Sethi fala de um de seus colegas: um homem criado em um parque de trailers no Kansas, que vai à igreja aos domingos e toma leite nas refeições, alguém que poderia ser considerado a antítese do ambientalista. No entanto, este homem caça aves para se alimentar, planta o próprio alimento e tem uma relação muito mais íntima com a comida do que ela.
“Ele cuida dos recursos naturais porque o senso comum manda, dirige um carro econômico para economizar e jamais se autodenominaria um ambientalista. O termo ‘ambientalista’ foi polarizado e politizado, mas nosso desejo de conservar e de proteger o meio ambiente é o mesmo”, pontua.
Exatamente quando há espírito de comunidade e cooperação é que encontramos a felicidade: quando nos envolvemos com os outros e os ajudamos, são ativados circuitos de gratificação no cérebro, os mesmos que acendem quando ganhamos um prêmio.
Considerando estas premissas, como comunicar os problemas ambientais de forma a gerar ação? Alguns pontos para reflexão:
· Apelar para imagens e experiência direta
· Vincular os problemas às nossas preocupações imediatas e às pessoas que nos importam
· Considerar o viés de confirmação e analisar a pessoa que está do outro lado, para entender de onde vem e quais são suas crenças
· Buscar um ponto de comunhão, que apele para nossos valores mais profundos
· Superar o isolamento e o individualismo em nome da cooperação.
“Nosso desafio é pensar nas pessoas que não são como nós, mas que no fundo são exatamente como nós. É preciso escutá-las, prestar atenção em suas preocupações e contar histórias que atendam a suas inquietudes”, exemplifica Sethi. “Só quando deixamos de ser ‘nós’ e ‘eles’ e nos tornamos parte de um todo é que poderemos resolver esses problemas juntos”.
Veja a palestra completa (em inglês) no vídeo abaixo:
As questões levantadas pela jornalista e professora são fundamentais para educadores, ativistas e até cidadãos interessados em difundir as questões ambientais.

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